Companhia Arte em Espetáculos

domingo, 21 de novembro de 2010

Soltei Tuas Mãos






O menino de apenas dois aninhos e meio vai chorando na perua escolar, enquanto a mãe com o coração partido, em prantos volta para dentro de casa, com dúvida se está fazendo a coisa certa.
O garotinho é super esperto e muito ativo e ela, grávida do segundo filho, aconselhada pelo pediatra, resolveu colocá-lo na escolinha maternal.
Apenas nos primeiros dias, seu adorado filhinho chorou, mas depois aceitou, se entrosando perfeitamente na escolinha. Tudo ia bem até a chegada do irmãozinho.
Daí não teve jeito. Enciumado, o primeiro filho não mais participava das atividades da escolinha e de hiper ativo, passou a ter comportamento apático e desinteressado.
A mãe então, preocupada, sentiu-se ainda mais culpada quando foi definitivamente buscar o filhote, encontrando-o emburrado e separado dos amiguinhos, sentado sozinho e cabisbaixo, num degrau do lado de fora da classe.
Ela abraçou-o, cobrindo-o de beijos e levou-o embora. O menino segurou apertado em sua mão, fincando com força seus pequeninos dedos e ambos foram embora para casa aliviados. Só aos cinco anos, sem qualquer problema é que ele retornou para a escola, já no infantil, momento considerado adequado para que começasse a freqüentar o colégio.
De repente, uma situação praticamente inversa começara a acontecer. O filho caçula também queria ir para a escola e ficava inconformado de não poder ir juntamente com seu irmão.
A mãe relutou o quanto pode. Muitas e muitas vezes chegou a fazer lanche para o maior e também para o menor e colocava-o numa lancheirinha, que frustrado o pequenino trazia de volta para casa, depois de chorar do lado de fora da escola, já que não podia passar para dentro do portão da entrada do colégio.
Quando o caçula completou quatro anos, a mãe finalmente matriculou-o no maternal. Foi uma festa para o filho e uma grande tristeza para a mãe.
No primeiro dia de aula, o maior como de costume, deu –lhe um beijo e saiu desembestado para a fila da classe. O pequeno iniciante ajeitou a lancheira, enquanto que a mãe o abraçava fazendo mil recomendações, até que ele se desvencilhou de seus braços, soltou de suas mãos e seguiu decidido para a formação da fila do maternal e nem uma vez sequer olhou para trás.
O portão da escola fechou. Todos os demais pais e mães foram embora e apenas aquela mãe, ficou ali do lado de fora sozinha com lágrimas que não paravam se escorrer de seus olhos.
Após tantos anos, ela lembra daqueles momentos com emoção. Seus dois anjinhos louros de cabelinhos cacheados, um vindo correndo ao seu encontro e agarrando forte em sua mão, já o outro se soltando, sem olhar para trás sem lhe dar ao menos um aceno.
Eles cresceram, se formaram e casaram. Cada qual está a trilhar seu caminho.
E como está agora essa mãe?
Ela olha para trás, lembra de tantas coisas, muitos momentos bons, felizes, outros difíceis. Reflete. Acha que cumpriu bem sua missão. Pensa que poderia ter feito mais e melhor, mas sente uma paz interior, o peito repleto de amor e de satisfação quando pensa em cada época, desde o nascimento,infância, adolescência, até chegar no presente. Transpôs as facetas, dificuldades e mudanças de cada fase de suas vidas, mesmo em situações de crise econômica, conseguindo manter a união e estabilidade emocional da família.
Essa mulher, que viu seus anjinhos partirem para a escola e sentiu uma pontada no coração naquele primeiro momento de separação, que acompanhou seu crescimento e tudo o que foram aprendendo, nos esportes, na música, nos passeios, nas viagens e se emocionou orgulhosa quando ambos se formaram na universidade e chorou copiosamente quando enfim eles se casaram e deixaram a casa dos pais, para enfrentar a vida com suas queridas esposas, à noite encosta a cabeça no travesseiro, agradece infinitamente pelos filhos maravilhosos e novamente se emociona, depois sorri, pensa e pede:
- Soltei tuas mãos, meus filhos.
“Senhor, segura sempre as mãos deles.Amém!”

Aos meus amados filhos
Rodrigo e Murilo

Rosana Montero Cappi

6 comentários:

magdalena vannuchi disse...

Lindo Rosana,
Foi escrito com seu coração..!
E mostrou muito bem o que sentimos ao soltar as mãos dos filhos.
Mas se lembrarmos que eles são filhos do Pai, que temporariamente estão sob nossos cuidados, nos sentiremos seguras ,porque soltarão de nossas mãos, porém nunca das mãos do Pai.

Poesias Inadequadas disse...

Caríssima Rosana,
A vida nos apresenta várias etapas, e vai nos levando.....
É um tal de soltar as amarras, de acenos contidos, todavia, como é bom quando sentimos por vezes, a força daquelas mãozinhas crescidas,que, por qualquer que seja o motivo, nos buscam e lançam ancoras em nossos corações.
José Luiz Pires

Sonícula disse...

Ao contrário da poetisa, ainda tem a mãozinha de um filho aqui em casa!
Essas amarras são muito fortes...ele não teve a coragem para isso!Sinto que essa coragem terei que ter e empurrar fora do ninho, para que ele voe para a vida!Qual é a mágica de nos colocarmos livres?...aí voce se revelou no texto...corajosa!Parabéns!

Casa do Poeta Campinas, tem por finalidade divulgar a poesia e incentivar novos poetas disse...

Lindo mesmo, Rosana.
Estou totalmente de acordo
com a Magdalena, escrito com
o coração.
E que nossos filhos estejam
sempre amarrados nas
mãos de DEUS.
J.B.Muniz Ribeiro
02 de Dezembro de 2010 23:25

Rachel disse...

Pois é... Eu vivi essas situações vezes seis = 6 filhos! A todo momento tenho razões para agradecer a Deus ter-me dado coragem para soltar as mãos deles todos. E se o fiz foi porque tinha as mãos de Deus segurando as minhas! Belíssimo texto! Emocionante. Um primor! Deus a abençoou em seu talento. Bj e paz. Rachel

DALVA SAUDO disse...

Rosana:

Lindo, emocionante e verdadeiro.