Companhia Arte em Espetáculos

quinta-feira, 5 de maio de 2011

APRENDENDO COM OS FILHOS E COM MARIA

Faz tempo que venho pensando neste tema. Recebi a grande benção da maternidade por duas vezes e hoje, meus filhos tem respectivamente trinta e três e trinta anos anos. Desde que fui mãe pela primeira vez, passei a compreender o maravilhoso exemplo deixado por Maria, mãe de Jesus. Ela sempre foi meu rumo, meu parâmetro, pois além de aceitar seu destino, acompanhou todo o sofrimento de seu filho, com resignação e fé, chorando aos seus pés sob a cruz.

As festividades da Páscoa acabaram de passar. As caixas de e-mails ficaram lotadas com lindas mensagens. Na Páscoa comemora-se a ressurreição de Cristo Jesus, o que levou-me a refletir sobre a trajetória da maternidade de Maria e de quanto ela aprendeu com seu filho, levando-me a concluir, que eu também tenho aprendido com os filhos que Deus enviou-me.

Maria foi escolhida para ser mãe de Jesus, porque Deus sabia o quanto ela seria capaz de aceitar e realizar o total desapego, pois seu filho um dia seria entregue em sacrifício. E ela teria que aceitar.

Eu sou uma mãe comum, como a maioria das mulheres. Assim sendo, pude acompanhar os meninos onde quer que fossem. Maria não, desde quando Jesus era criança, teve que dividir sua companhia com os sábios pois aos doze anos seu rebento já ensinava aos doutores nos templos.

Eu tive a sorte de poder levar a crianças à escola, participando de seu desenvolvimento físico e mental, torcendo nas competições de natação, me emocionando nas primeiras audições de piano. Pude também construir com eles castelinhos na areia da praia, empurrá-los nos balanços de parquinhos infantis, brincar de esconde-esconde, brigar para impor um pouco de autoridade e dar os limites necessários e ter a satisfação de vê-los formados, constatar seu crescimento profissional e presenciar seus matrimônios.

Desde os primeiros instantes, assim que segurei meu primeiro filho nos braços, lembrei-me de Maria. Eu estava ali, confortável e amparada. Diante da emoção, da total inexperiência e da importante responsabilidade por aquele pequeno ser que gerei em meu ventre, eu chorei. Meus seios doíam, o bebê chorava. Então eu fechava os olhos e lembrava de Nossa Senhora, que precisou refugiar-se dando à luz numa estrebaria, onde animais à sua volta serviram para aquecê-la e ao seu pequenino e iluminado filho. Assim, sempre que eu encontrava alguma dificuldade, mirava-me em Maria e compreendia a sua paciência e imensa capacidade de amar.

Com o passar o tempo, fui entendendo algo que ultrapassa a condição de mãe, que tenta ensinar noções, conceitos e princípios aos filhos, sendo portanto o enorme aprendizado que eles foram me proporcionando ao longo dos anos. Na medida em que eles foram crescendo, foi despertando em mim uma enorme vontade de aprender. Tudo o que não pude aprender na infância, passei a experimentar como por exemplo praticar esportes. Enquanto eles competiam na natação eu aprendia a nadar os quatro estilos. E a música? Por causa deles a música passou a ser algo muito importante em minha vida. Voltei a ter aulas de piano, motivada pela grande vontade do Rodrigo em aprender a tocar. O mais maravilhoso foi ter conseguido proporcionar a ele o tão sonhado instrumento musical. Com o Murilo então, pude retomar a velha amizade com o violão e tivemos bons momentos juntos cantando e tocando embalados pelas mais variadas melodias. E o amor pelos animais? Eles foram capazes de atos tão generosos, que só de lembrar me emociono. Por isso existem inúmeras fotos deles com gatinhos. Esses bichinhos ajudou-os a entenderem sobre as perdas. Vários passaram por nossa vida e se foram das mais diversas maneiras. Muitos desses animais eles ajudaram, salvaram e deram muito amor.

Mas isso é tão pouco, diante da gama de experiência que a maternidade oferece para nós mulheres. Estar ao lado dos filhos em momentos de êxito ou de frustração. Sofrer com sua ausência.Sentir alívio ao ouvir o maravilhoso som da porta batendo de madrugada, na volta da balada. Sentir saudade, pelos longos meses quando era adolescente e fez intercâmbio. Aprender a ouvir seus lamentos, entender seus anseios. Aceitar que cresceu e arranjou namorada. Vibrar com as conquistas. Entender suas opções. Errar em conturbados momentos de desequilíbrio, e depois se arrepender e entender que tudo é motivo e oportunidade para alcançar definitivo entendimento e zerar as desavenças. Cobrar-se por não ter feito mais por eles.

O poeta Vinícius de Moraes disse: Filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como saber?

Em resposta a essa frase eu faria outra pergunta.

Existe algo mais completo e sublime que a vivência da maternidade?

Agradeço imensamente a oportunidade do maravilhoso aprendizado, que meus filhos têm me proporcionado. Filho não é apenas trocar fraldas, amamentar, vestir, ensinar. Filho é eterno aprendizado que não vem com manual de instrução. Não somos apenas nós, mães e pais que passamos o melhor para eles, mas através deles é que as virtudes são despertadas em nós.

Agradeço ao eterno e grande ensinamento de Maria, que ao assumir sua divina missão, exerceu o amor incondicional, com paciência, tolerância, sabedoria e fé. Só assim pôde suportar o triste calvário de seu amado filho Jesus.

Quero continuar aprendendo com meus filhos e com Maria.


Rosana Montero Cappi

Um comentário:

DALVA SAUDO disse...

Parabéns pela crônica e pela maravilhosa pessoa que és!